Conheça o nosso início. Há mais de 30 anos o Pr. Érico Rodolpho Bussinger iniciou a COMUNIDADE RAMÁ NO RIO DE JANEIRO junto com a esposa Rose Bussinger e os cinco filhos que na época eram crianças. Daí por diante a Comunidade se espalhou e hoje está presente no Sul do país e também no nordeste do país, e chegou até Moçambique na África. Acompanhe os detalhes desta história e conheça-nos um pouco melhor. É o próprio pastor Érico Rodolpho Bussinger quem vai contar um pouco dessa longa jornada espiritual.
O LEGADO CRISTÃO E A CONVERSÃO
Transcrição do testemunho do Pr. Érico Rodolpho Bussinger gravado no Sítio Ramá à respeito da sua conversão à Cristo, à respeito do chamado para a obra de Deus e a respeito do início da Comunidade:
“Há mais de 100 anos, meu avó andava por aqui (Nova Friburgo). Ele ia a pé, ia de Friburgo para Casimiro de Abreu, para esses lugares todos, como Madalena. Ele andava por esses lugares como seminarista, já pregando. Era uma época muito diferente. Ele teve o privilégio até de receber oposição, crítica, perseguição e até apedrejamento. Era uma época de pioneirismo no Evangelho, e ele criou os filhos nessa doutrina batista. Meu pai e todos os filhos dele foram criados no presbiterianismo. Há 100 anos, os dois ramos principais do protestantismo no Brasil eram os batistas e os presbiterianos. Os pentecostais estavam apenas começando a chegar em Belém do Pará. Quando chegaram, foram se estabelecendo, mas não vieram como missionários pagos, como os demais. Os pentecostais vieram com a cara e a coragem, na unção de Deus. No início, tudo foi difícil. Eles levaram anos para se estabelecer e muitos anos para o pentecostalismo se espalhar pelo Brasil.
Quando eu era pequeno, o pentecostalismo ainda era pequeno e, por isso, tinha pouca influência, embora estivesse crescendo. O grande boom e explosão do pentecostalismo aconteceu junto com o regime militar, em 1964. Antes disso, havia uma propaganda comunista muito forte no Brasil dentro das igrejas, e todas as igrejas tradicionais de alguma forma tinham pregação comunista. Os pentecostais estavam totalmente fora disso, não ligavam para esse assunto e eram ainda pequenos e inexpressivos em relação ao geral. Hoje já tudo mudou. Talvez 80% ou mais do povo evangélico no Brasil seja pentecostal. Uma minoria é considerada tradicional, e dos tradicionais, a maior parte já se renovou, aceitou as doutrinas pentecostais. São pouquíssimos hoje os tradicionais que não aceitam os dons espirituais.
A realidade mudou muito. Eu fui criado no meio evangélico rigoroso: não podia trabalhar no domingo, não podia fazer isso ou aquilo. Era uma série de restrições que faziam parte do moralismo da tradição calvinista, e isso forjou um modo de vida pelo qual os evangélicos, que nem eram chamados de evangélicos na época, eram respeitados no Brasil. Eram poucos em número, mas muito respeitados pela moral. Dizer que alguém era evangélico, ou “crente”, como se dizia mais, era um elogio, um título. Hoje, quase se aproxima do contrário. Dizer que alguém é crente ou evangélico já causa restrições, de tanto mau testemunho que se vê. Mas naquela época éramos muito poucos, e havia um zelo moralista. Os evangélicos eram muito apegados à moral evangélica, e a moral fazia parte da religião. Uma pessoa que tivesse a cabeça no lugar, mas não vivesse uma vida correta, não permanecia na igreja. Era excluída da maioria das igrejas.
Eu fui criado dessa maneira e não gostava nada disso. Acostumei-me com as coisas de Deus, e aquilo já fazia parte da minha educação. Os “não podes” faziam parte da minha estrutura, mas nem de longe eu tinha atração por essas coisas. Se alguém mencionasse ser pastor, eu tinha ojeriza. Na minha juventude, na adolescência, fiz muita bobagem. Aos 16 anos, o Senhor me encontrou, me apertou e tomei a decisão. Um ano depois, tomei a decisão de consagração total, entregando minha vida completamente ao Senhor. Isso realmente marcou minha vida. A partir dos 17 anos, comecei a evangelizar e participar de grupos de liderança. Com 18 anos, mais ou menos, eu já era líder de jovens. Aos 19 ou 20 anos, já era um líder reconhecido, evangelizava muitas pessoas e a vida já estava completamente dedicada a Deus.
Eu quis me dedicar totalmente ao ministério, mas Deus não deixou. Tive que ir para a faculdade, e tudo foi providenciado pelo Senhor. Nem fui eu; foi o Senhor que me empurrou. Quando vi, já estava matriculado. Eu tinha facilidade com matemática, sempre passava entre os primeiros, mas rejeitei isso por causa do Evangelho. Disse: “Não, Senhor, o Senhor vai estar em primeiro lugar, nada disso mais.” E assim o Senhor me empurrou para dentro da engenharia. Quando saí da faculdade, já não queria mais estar na atividade, mas o Senhor me empurrou para a Petrobras. Quando vi, já estava lá dentro, contra minha vontade. Entrei querendo sair. Entrei querendo sair, e acabei ficando 30 anos lá. Me aposentei, e isso era o plano de Deus. A vida cristã foi levada em paralelo com o trabalho secular, mas nunca o trabalho ocupou o primeiro lugar. Eu faltava facilmente ao trabalho. Não dava prioridade a ele. Se tivesse que fazer uma viagem, um casamento, ou alguma obra de Deus, eu deixava o trabalho de lado. Deus foi tão misericordioso que me manteve. Permitiu que eu andasse em paralelo. A sobrecarga era muito grande, porque havia muito trabalho, e eu dava prioridade à obra de Deus. Não havia horário fixo para reuniões. Às vezes, chegava em casa de madrugada e acordava cedo. Sempre foi pesado, mas nunca questionei deixar a obra de Deus por causa do trabalho. Nem pensar. Deixaria o trabalho a qualquer momento por causa da obra de Deus.
O CHAMADO
O chamado era forte. Foi assim que tudo aconteceu de uma vez: o chamado, a entrega à obra, a liderança, o casamento e os filhos, que vieram logo em seguida. Foram cinco filhos, um atrás do outro. Minha vida foi uma correria só, e foi nessa correria que Deus começou a me usar na liderança para cuidar de outras pessoas. Foram muitas, muitas experiências até eu virar pentecostal, aceitar, adotar e buscar o batismo com o Espírito Santo. Depois do batismo, recebi o chamado, a unção e os dons. Isso tudo aconteceu no corre-corre. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e, para mim, isso foi muito marcante. Deus não me deixou cair, fracassar ou retroceder. Saí firme, e logo Deus me tirou do meio tradicional. Quando comuniquei ao pastor — que era o principal no Rio, o pastor Amantino — que estava saindo da igreja, ele ficou emocionado. Disse: “Pastor, estou saindo da igreja, mas seguindo outro caminho.” Não entrei em muitos detalhes, mas ele ficou triste.
Por onde passei, as portas sempre ficaram abertas. Nunca saí de um lugar, seja material, secular ou eclesiástico, com as portas fechadas. Sempre havia choradeira quando saía, mas, quando Deus dava uma direção, eu saía. E acabou, saía mesmo. Foi assim que Deus foi me guiando. Logo, Deus me tirou e me colocou no meio pentecostal. Logo, me colocou na liderança, pastoreando uma igreja. As coisas se desenvolveram muito rápido. Daqui a pouco, comecei a dar aulas no seminário e já assumi a direção. Tudo aconteceu muito rapidamente comigo. No início do ministério, eu já tinha visitado ou pregado em centenas de igrejas. Já conhecia muitos tipos de igrejas e o ambiente evangélico. Uma vez, fui responsável pela comissão de jovens da cruzada Billy Graham. Uma vez, recebi a tarefa de visitar mais de 300 igrejas evangélicas em São Gonçalo. Eu ia lá como jovem, e muita atividade acontecia, tanto em situações paralelas quanto parecidas. Visitei muitas igrejas.
Fiz trabalhos missionários, saí para o norte e nordeste do Brasil, visitando igrejas por onde passava. Isso me deu um conhecimento de todo tipo de denominação evangélica, tanto as tradicionais, que eu já conhecia razoavelmente bem, quanto as pentecostais. Isso me deu uma experiência muito grande. Tive o privilégio que pouquíssimos pregadores no Brasil têm: preguei na Assembleia de Deus Mãe do Brasil, em Belém do Pará. Não sei o que aconteceu na cabeça do pastor Firmino, que deu o púlpito da igreja para um sujeito estranho, um jovem que nem sabia usar terno direito e que nem era assembleiano. Não sei o que deu na cabeça dele, mas deu. Na direção de Deus, fui e falei o que tinha de falar. Experiências como essa aconteceram muitas vezes. Conheci muitas denominações. Quando assumi a direção do seminário, saí para procurar os seminários principais do Brasil: Batista, Presbiteriano, Congregacional, Assembleiano — a Assembleia não tinha tantos seminários na época. Assim, fui conhecendo as doutrinas das várias denominações, como eram ensinadas nos seminários.
O meio evangélico é um lugar para amar os irmãos, conhecê-los e amá-los com conhecimento de causa, além de extrair o melhor. Durante todo esse tempo, eu estive como ajudante. Normalmente, eu não tomava a frente do trabalho, mesmo porque não podia. Tinha uma família de cinco filhos, além de ser responsável pela direção do seminário e da igreja. Eu não podia tomar a frente de tudo assim, pois não tinha tempo para isso. Tinha um emprego que tomava oito horas do meu dia, mais uma hora de almoço e mais duas horas de deslocamento, ou seja, eram 11 horas por dia. Tudo que eu fazia para Deus tinha que se encaixar nesse tempo.
A VIAGEM PARA O CEARÁ E O INÍCIO DA COMUNIDADE
Deus deu uma guinada na minha vida e disse: “Vai mudar tudo. Você vai morrer para esse estilo de vida e vai começar de novo.” Ele me mandou para o Ceará. Lá, eu realmente comecei a correr atrás de igreja, mas Deus me mostrou que não era isso que Ele queria para mim. Então, eu parei e me dediquei mais à família. O trabalho lá no Ceará me deu alguns aborrecimentos, e eu pedi: “Senhor, olha o abençoado…”. Não sei se o senhor tem água, mas já deixo isso por aqui. No Ceará, minha vida mudou radicalmente. Com o tempo livre, eu assistia televisão. Era a época do Plano Cruzado, em 1985, e eu queria acompanhar todos os noticiários. Assistia à Bandeirantes às 7 horas, à Globo às 8 e à Manchete às 9. Então, o Senhor me fez abrir os olhos: “Meu servo, dá uma olhada ao seu redor. Você está aí, vendo televisão, e o que seus filhos estão fazendo? Brincando até ir dormir?” Aquilo me deu um susto. Eu já tinha levado outro susto antes, quando começamos a obra de construção da igreja e eu não estava dando conta do que precisava ser feito. Além disso, eu ainda tinha que construir o templo.
Eu saía de casa às 6 horas da manhã e, quando voltava, às 11 da noite, os filhos já estavam dormindo. Deus me fez perceber que eu não estava vendo meus filhos crescerem. Saía de casa com eles dormindo e voltava quando já estavam dormindo de novo. Então, o Senhor me corrigiu e me levou para o Ceará. Lá, eu ainda insisti em fazer algumas coisas que o Senhor não queria que eu fizesse, até que Ele me acordou com relação à televisão. Desde então, tomei a decisão de não assistir mais televisão, e não assisto. Se estou em um bar, restaurante ou algum lugar na estrada e vejo uma televisão, até dou uma olhada, mas não fico mais de 5 minutos na frente da tela. Glória a Deus, aleluia! É só tirar um pouco da bundinha do sofá. Deus tem me abençoado porque o tempo dedicado à televisão é terrível. A televisão é um roubador de tempo tremendo, estraga muito a vida espiritual. Além disso, tem a linguagem subliminar, o conteúdo envenenado, e tudo isso somado ao fato de que é uma perda de tempo. O propósito da televisão é entreter e segurar as pessoas. Foi nesse contexto que tomei a decisão e nunca mais me arrependi. Passei a me dedicar aos filhos em vez de assistir aos noticiários.
Quando a “ficha caiu” e a televisão ficou de lado, passei a fazer culto com meus filhos. Comecei a fazer leitura bíblica e realizar cultos em casa. Foi aí que tudo mudou. Meus filhos, começando pela mais velha, um por um, me chamavam para orar com eles e entregarem suas vidas para Jesus. Assim, os cinco tomaram essa decisão. Depois, começamos a nos reunir em casa, e às vezes havia gente de fora. Foi assim que Deus queria, e assim começou a nossa Comunidade. Voltamos para o Rio de Janeiro e continuamos o trabalho em células. A partir daí, Deus me ensinou alguns princípios que eu quero compartilhar aqui. Além das doutrinas básicas do cristianismo, existem princípios importantes para nós.